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Peixeira

Por ahcravo gorim – António José Cravo

Exposição com audiodescrição

Introdução: a peixeira (ou saltadoiro)

A pesca da tainha na Ria de Aveiro / Portugal guarda tradições únicas. Uma delas é a “peixeira” ou “saltadoiro”, uma arte de pesca tão especializada que, em 2009, apenas uma bateira, a do Ti Manel Viola e seu filho Alfredo, da Bestida (Murtosa), a praticava. Esta exposição virtual celebra essa técnica, um verdadeiro balé aquático que exige perícia, paciência e profundo conhecimento da ria e seus habitantes.

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Foto 2
Foto 1 (Capa)
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A anatomia da peixeira: redes e varas

Por Ticiano Alves baseado em ahcravo gorim e informações técnicas de Nobre, Freixo e Macedo (1912)

“Salto, parreira ou peixeira, é talvez o mais engenhoso dos aparelhos de pesca interior. Só se conhece o seu uso na ria de Aveiro, onde foi inventado, haverá meio século, por um pescador de Esgueira, sendo logo adaptado pelos da Murtosa, em cujas mãos se tem conservado quási exclusivamente” (NOBRE, AFREIXO E MACEDO, 1912).

De acordo com os autores supracitados, além da tainha, alguns outros peixes podem ser capturados, como robalo e “peixes chatos”. O seu uso se dá em lugares com profundidade inferior a uma braça, tendo como outro requisito águas quase paradas.  

A peixeira é uma arte complexa sendo anatomicamente composta por diferentes redes e estruturas:

  • O Curral:

    • 7 varas de 1,50m, onde se prende a “manta”.

    • Rede de tresmalho com 15m de comprimento e 1,20m de altura.

    • Malha do “miúdo” (parte central): 0,08m.

  • A Manta:

    • Rede horizontal, fixada nas varas do curral.

    • Malha: 0,06m.

    • Largura: 1,20m.

    • Função: Capturar as tainhas que saltam sobre o curral.

  • O Cerco:

    • Rede simples (um só pano) com cerca de 200m de comprimento.

    • Altura: 1,20m.

    • Malhagem: 0,06m.

    • Chumbada em uma extremidade para fixação no fundo.

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Créditos

Exposição: Peixeira

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Foto 015

ahcravo gorim - António José Cravo

Fotógrafo / Portugal

Membro Benemérito

Museu Marítimo EXEA

Informações, fotografias e leituras

Ticiano Alves

Coordenador de Exposições

Museu Marítimo EXEA

Coordenação das audiodescrições, diagramação e curadoria

Leandro Vilar

Diretor Geral

Museu Marítimo EXEA

Camila Rios

Diretora Técnica | Museóloga

Museu Marítimo EXEA

Raphaella Belmont Alves

Diretora Executiva | Revisora ortográfica

Museu Marítimo EXEA

Revisão da Exposição

NOBRE, Augusto; AFREIXO, Jaime; MACEDO, José. Relatório Oficial do REGULAMENTO DA RIA de 28 de Dezembro de 1912. Portugal.

Referência

© Todos os Direitos Reservados.

Curadoria Legal

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Os mestres da peixeira: os últimos guardiões da tradição

Ti Manel Viola, com seus 88 anos em 2009, personificava a sabedoria ancestral da pesca da tainha. Junto com seu filho Alfredo, mantinha viva a peixeira, uma arte passada de geração em geração. A rotina deles era ditada pelas marés e pelos dias de feira em Pardelhas, onde vendiam o peixe fresco, fruto de seu trabalho. A dedicação à pesca, porém, enfrentava um desafio: o baixo valor comercial da tainha, que ameaçava o futuro da peixeira.

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Doze Horas na Ria: O Ritual da Peixeira

A jornada de acompanhamento da pesca por ahcravo gorim iniciou-se ao meio-dia. Era preciso chegar aos pesqueiros com a maré parando, condição essencial para a peixeira. Alfredo, ao motor, silenciava a bateira ao se aproximar dos locais promissores. Com a vara, impulsionava a embarcação suavemente.

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"A Ler a Ria": O Olhar Atento do Pescador

Na pesca da peixeira, a experiência e a intuição são tão importantes quanto as redes. O pescador experiente “lê a ria”, observando atentamente os sinais sutis na água: o movimento das tainhas, as mudanças na correnteza, o brilho do sol refletido. É um conhecimento profundo, passado de geração em geração, que permite identificar os melhores locais para lançar as redes e antecipar o comportamento dos peixes.

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O Cerco: Um Balé Silencioso na Água

O lançamento do cerco é um momento crucial. A bateira desliza silenciosamente, impulsionada pela vara, enquanto o pescador lança a rede de cerca de 400 metros, formando uma curva suave na água. A rede, sem fixações intermediárias, exige que a manobra seja feita com a maré parada, para que mantenha sua forma e cerque as tainhas. É uma dança precisa entre o homem, a embarcação e a ria.

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O Curral: A Armadilha da Tainha

O curral, também chamado de caracol ou espiral, é o coração da peixeira. Formado por uma rede de tresmalho estacada em varas, cria uma armadilha engenhosa. Os primeiros 20 metros são de tresmalho vertical (os “arinques”). A partir daí, nos “adaques”, surge a “manta”, um pano de rede horizontal que se estende para fora da água. Quando as tainhas saltam para escapar do curral, caem na manta, ficando presas.

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A Espera e a Colheita: Paciência e Recompensa

Após o lançamento do cerco e a montagem do curral, começa a fase de espera. O pescador, com a vara, bate na água do lado de fora da rede, empurrando as tainhas em direção ao curral. É um trabalho que exige paciência e conhecimento do comportamento do peixe. A colheita da rede, feita gradualmente, revela o resultado do lanço, a recompensa pelo esforço e dedicação.

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Duas Horas por Lanço: O Tempo da Peixeira

Cada lanço da peixeira, desde a preparação inicial até a colheita final da rede, leva cerca de duas horas. É um processo demorado e meticuloso, que exige não apenas força física, mas também um profundo conhecimento da ria e das tainhas. O tempo, na peixeira, tem um ritmo próprio, ditado pelas marés, pelos peixes e pela tradição.

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Futuro da peixeira: Um Legado em Risco?

Apesar da maestria de Ti Manel e Alfredo, o futuro da peixeira é incerto. O baixo valor da tainha no mercado e a dificuldade em encontrar sucessores que dominem essa arte complexa colocam em risco uma tradição centenária. A peixeira é mais do que uma técnica de pesca; é um patrimônio cultural da Ria de Aveiro, que merece ser preservado e celebrado.

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